Veja como foi o 3º "Café, Mulheres e Roda de Conversa"
No dia 23 de agosto foi realizado no salão do Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) de São João Evangelista - MG, a terceira edição do “Café, mulheres e roda de conversa”. O evento foi organizado pelo CRAS de São João Evangelista e contou com o apoio da professora Dr.ª Kátia Borges, coordenadora do Projeto “Hashtag(s) movimento de mulheres”. O evento fez parte das ações do movimento “Agosto Lilás”, que tem como objetivo conscientizar a população sobre a violência contra a mulher, além de fortalecer a necessidade de denunciar casos de violência que estão cada vez mais frequentes. Por isso, o tema deste ano é: "O que eu VI, o que eu OUVI ou já VIVI".
O evento contou com a presença de 89 mulheres. Entre elas estavam as servidoras Sheyla Christina Alves Barbosa, Shirlene C. Alves Barbosa e a professora Patrícia Ferreira Santos Guanãbens. As alunas que integram, voluntariamente, a equipe do projeto Hashtag(s) também marcaram presença e participaram ativamente da roda de conversa. Ao final elas fizeram a doação dos produtos de higiene e limpeza coletados na Campanha Cuidar de Mulher e Meninas Importa (CMMI), realizada no campus dia 10/08.
A coordenadora do CRAS, Agnes Corina de Oliveira, abriu a roda de conversa explicando a importância de espaços como esse para dialogar e debater vivências, experiências e assuntos que são importantes para as mulheres, como por exemplo, a violência doméstica. Em seguida convidou a professora Kátia Borges para mediar os diálogos na roda.
Como o objetivo da roda é ouvir, socializar e compartilhar relatos, histórias e vivências de situações de violências presenciadas ou experenciadas por mulheres, a professora Kátia iniciou a fala com o trecho do livro “Torto Arado” (disponível abaixo), do escritor baiano, Itamar Vieira Junior. O trecho narrava uma história de sofrimento de uma esposa que sofria maus tratos do marido que era alcoólatra. Após a leitura, ela questionou se alguma das mulheres presentes havia sofrido, visto ou ouvido falar de alguma situação igual ou parecida de violência narrada em sua leitura. E o público presente começou a participar sob a mediação da professora, que fazia intervenções com exemplos da História. Foi um momento singular, em que laços de solidariedade, interação e reciprocidade entre as mulheres foram tecidos. O fechamento da roda de conversa foi feito pela secretária de assistência social, Dinalva Aparecida Rocha, que agradeceu a presença de todas e lembrou o quanto é importante a representatividade do IFMG - Campus São João Evangelista em ações como esta. E, assim fez o convite para que mais servidores do campus passem a colaborar para com as ações sociais do município. O evento foi encerrado com o café coletivo.
Trechos do livro Torto Arado – (Itamar Vieira Junior)
“... Tobias retornava ao fim da tarde e a primeira coisa que fazia era dar uma talagada na garrafa de cachaça que ficava em cima da mesa. Depois tomava banho ou ia direto se sentar à mesa para a refeição. Eu parava o que estivesse fazendo para servi-lo. No começo, parecia apreciar minha comida, sempre repetia. Depois passou a reclamar que tinha muito ou pouco sal. Que o peixe estava cru, e me mostrava pedaços em que eu não conseguia enxergar a falta de cozimento, ou outros que se esbagaçavam com as espinhas, dizendo que tinham cozido demais. Nessas horas eu ficava aflita, o coração aos pulos, magoada comigo mesma, me sentindo uma tonta por ter sido desleixada com o preparo. Mas suas queixas não passavam disso, não alterava o tom da voz, não falava alto. Falava como se olhasse para o cultivo e constatasse alguma coisa que enfraquecia a plantação (p.115)”.
“.... Mas era só acordar que vinha mais queixa: ou o café estava ralo como xixi de anjo, ou estava forte, uma borra de amargo. Procurava enxada, procurava foice, coisas que eu nem havia mexido. E se ele mesmo deixasse as coisas num lugar diferente, só por não lembrar, perguntava: “Mulher, onde está isso?”, “Onde está aquilo?”, e sentia aflição, parava o que estava fazendo para ajudá-lo a procurar. Se eu encontrasse, era como se ele tivesse feito, nem dizia palavra para agradecer. A coisa ficou tão ruim que eu me antecipava, nem esperava ele pedir, já dava tudo em suas mãos: cinto, sapato, chapéu, gibão, facão, só para não o ouvir chamando “mulher”. Me sentia uma coisa comprada, que diabo esse homem tem que me chamar de mulher, minha cabeça agitada gritava (p.116).
“... Fiquei apreensiva, aliás, essa apreensão havia se tornado uma rotina em minha vida naquele pouco tempo em que morávamos juntos” (p.120)
Fonte: Professora Kátia Borges e CEMT
Redes Sociais